Ao vencedor, batatas?!

Postado por Simone Pereira , segunda-feira, 20 de dezembro de 2010 09:28

“[...]Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos que assim adquire forças para transpor a montanha e e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais feitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.
- Mas a opinião do exterminado?
- Não há exterminado. Desaparece o fenômeno; a substância é a mesma. Nunca viste ferver água? Hás de lembrar-te que as bolhas fazem-se e desfazem-se de contínuo, e tudo fica na mesma água. Os indivíduos são essas bolhas transitórias. [...]”.

-Quincas Borba, capítulo VI

A trajetória da existência é um ciclo. Assim como bolhas são transitórias, nós e nossos anseios também somos temporários.
A cada dia partimos em busca de novas “batatas”, partimos para o combate, muitas vezes de forma errada para conquistarmos algo que por ocasiões, nem sabemos ao certo o que é; estamos em um jogo em uma competição desenfreada com o único objetivo de conquistar as míseras "batatas" e a passageira glória e prestígo que ela proporciona.
Somos o nosso próprio algoz, somos o nosso lobo, a caça e o caçador; partimos em busca de algumas “conquistas” (5 minutos de fama)  fúteis; travamos a batalha de forma errada, queremos exterminar e passar por cima a todo custo de todos aqueles que ameaçam a nossa glória, a nossa transitória e miserável coleção de batatas.
Seríamos seres melhores, se cada indivíduo tivesse a consciência de que nessa água somos apenas meras e insignificantes bolhas, pois a tensão não está no outro e sim em cada um, onde o conflito é exatemente entre o que somos,poderíamos e gostaríamos de ser, entre o que temos, poderíamos ou gostaríamos de ter.
No mundo existem mais coisas do que o nosso próprio umbigo, e ao invés de concentrar as energias lutando contra um vizinho “inimigo”, deveríamos nos concetrar na capacidade de ponderar, pensar e refletir; vale a pena sacriaficar o que amamos por coisas pequenas? 
Batatas são apenas batatas.

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